transition

[ sobre a inquisição da matéria social ]

É-me impossível falar dos outros sem falar em mim.

e eu
A construção do eu a partir da figura geométrica em progressão para o sólido geométrico. A mudança de perspectiva, a dimensão espacio temporal da posição, da pedagogia e do poder.

Primeiro, porque a responsabilidade de saber de mim enquanto arquiteto, é somente o ato coerente de elaborar um tema do qual estou disposto a falar, mesmo que errado, por forma a propor uma alternativa do pensamento prevalente. Esta minha ética, sobre a política posicional da minha própria pedagogia de autoanálise e conhecimento/reconhecimento do poder a que tenho acesso e/ou contruí através da arquitetura, assim me impele a fazer. Por isso um doutoramento, na segunda parte da minha carreira, na qual abandonei a minha ligação ideológica com a arquitetura em detrimento de uma possível reconfiguração filosófica da minha disciplina.

Segundo porque, tenho a inabalável certeza de que sou um corpo colonizado. Sei que carrego em mim a herança de uma escola, pela influência dos grandes mestres, que pela proximidade, simbologia, analogia e afinidade se traduzem constantemente na minha prática. Não estou à procura da minha autobiografia científica, mas sei que, como outros antes de mim, me debato com o estado da arte que pratico, na forma com o faço, e no juízo do seu resultado. Evito deliberadamente falar de originalidade, essa é minha, ou não fosse eu um autor.

Terceiro porque estou preparado para ser cobaia. Ser o primeiro a preencher os programas de autoanalise, de ser amostragem e dissecado como o corpo político e construído que sou.

versos de imanência e transcendência

January 3, 2022

Sei que busco uma morte por transição, linda. Um momento de reflexão final, calmo e simples, cheio de uma vontade que nunca deixou de existir de dentro de mim, desde bem fundo na minha curiosidade em viver assim. Sei que muitos não precisam de entender essa vontade de morrer, mas para mim é assim que me sinto vivo.

Procuro que esse seja o mote para a celebração, não desse momento conclusivo de todos os outros que afinal passaram, mas de tantas outras ignições que ainda promovo, principalmente não estando cá.

É nesse momento que tudo se resume quando nada mais somos do que a soma final do que fizemos, mas não é isso que busco. O que eu quero é que a palavra não seja dita, que o ato não seja pedido e que a eficiência do que não é necessário referir, do concretamente evitável, seja de facto evitado. Aprender a viver, simplesmente ter uma vida longa e cheia, define um novo léxico de escolhas, decisões e ações. Mais do que isso representa para nós, alimento-me do impacto que isso tem para os outros, sem a mínima influência do altruísmo, pelo contrário, num egoísmo que transcende a filosofia banal do estado humano presente.

Construí uma vida onde a transição dessa ligação com tudo não passa do ato normal de cessar a mera presença entre nós.

August 20, 2019