A força de certas palavras é tal, que tal como o nosso carácter, só se provam pelo seu oposto.

Felicidade, amor, tristeza, amizade são termos abstractos e geralmente relacionados com a sua perda: a sua intensidade é inversamente proporcional à sua falta, à sua ausência.

São termos de tal forma genéricos que a sua condição de existência é mais sentida quando está relacionada com a sua falta. Desta forma são termos condicionais e por consequência gratuitos. São superficiais e pouco expressivos e apesar do seu suposto significado e importância, representam um desinteresse claro numa expressão intencionada enquanto demonstração de afecto, sentimento e emoção. Não são termos privados e pessoais.

Pelo oposto, entendemos a sua ausência, uma certa falta de interesse na intensidade e exclusividade de expressão pessoal, mas existem espectralmente mais opostos a explorar.

O carácter é geralmente conotado de acordo com a sua presença, expressividade e volume. Parece novamente uma palavra abstracta, genérica e pouco generosa mas não se verifica exactamente pelos mesmo critérios. O seu oposto é dificilmente um sinal de força, controlo e domínio sobre o tal carácter (e como tal a presença, interesse intencional e a expressão privada e pessoal de emoção, sentimento e afeto) e poderá até ser confundido com alguém que terá um carácter fraco, anónimo e irrelevante.

Raramente olhamos para alguém composto, calmo e controlado, mesmo que por momentos seja expansivo, excitado e extrovertido, e pensamos no seu carácter como forte.

Este é para mim um termo importante, insuspeito e ao qual não sou indiferente. Apesar de se relacionar com algumas das características dos termos genéricos, apresenta uma variação baseada na direção em que é vista a personalidade do caracterizado. Talvez seja o facto de, apesar de se projetar para o exterior, é dominado (na ausência e na presença) exclusivamente pelo controlo interior do indivíduo.

Os termos genéricos são o oposto, e apesar de também eles se direcionarem para o exterior do indivíduo, supostamente originários desde o seu interior, são manifestações dominadas por normalizações externas da ausência e da pressão social afetiva, emocional e sentimental.

O carácter forte e vincado é o mais silencioso e controlado apesar do mundo achar o contrário.