Tudo é confronto.

Supostamente livres da condição primal da sobrevivência, vivemos uma transformação educativa, em que a violência prevalece perante a educação. Imposta pelos fatores conhecidos da vida contemporânea, esta prevalência persiste na preferência sobre o entretenimento e a ausência, em vez da reflexão e da presença participativa, até agora um acto natural. A força deste modo artificial de viver é tal que já está relacionada com novos princípios a defender perante a evolução cultural que se prevê acontecer. É de uma violência inexplicável como nós, seres sociais, nos transformamos em meros retratos digitais.

Conscientemente, substituímos educação e reflexão por conflito, sob a forma de violência. Violência porque deixamos de ouvir, aceitar, respeitar, colaborar, partilhar, participar e passamos a exigir, impor, discriminar e agredir. Perdemos a noção de resistência e obediência pela banalização de qualquer luta, vulgarizando assim o acto crítico enquanto construção positiva e coletiva. A defesa é agressão e a agressão é traumática, grave e inultrapassável. E isso é violência.

Voltamos ao caminho que nos levava à extinção e de o qual talvez nunca tentamos realmente sair.

Supostamente educados, demoramos séculos a perceber que nunca o fomos. Somos vítimas de uma visão reduzida ao túnel de ideologias precariamente medíocres, populistas e insuficientes Antes, julgamos que terras, crenças e recursos eram razão para morrer. Hoje, matamos seguros em frente a um ecrã. Amanhã, seremos de tal forma ignorantes que não reconheceremos sequer o que devemos salvar. Achamos que vivemos em busca de soluções quando afinal só fizemos disso um espectáculo em exibição.

Tudo é virtual, digital e banal. Tudo é normal. Tudo continua por educar.

Interrompemos outros na expectativa da nossa vitória, perseguimos vencedores sem perceber os vencidos, impomos inclusão e integração ao discriminar reivindicações e alaridos. Falamos tão alto e iludidos que deixamos calados os que não conseguem ser ouvidos. Agitados, defendemos o confronto como se não soubessemos fazer com outra fronte. Usamos a fronte como um animal irracional, batendo com força de um ódio frontal.

Calma, discernimento, frontalidade e construção. Administrados por uma educação baseada na realidade do mundo em que queremos progredir colectivamente. Um equilíbrio físico e material entre humanos e não humanos, assente em actos científicos e cenários etnológicos, culturais e sempre inclusivos tanto como naturais. Uma possível atualização técnica dos ideais clássicos em que arte é o centro da cultura social, em que a política é uma prática ética e saudável, em que os recursos são mantidos no seu devido lugar, sem ser preciso abusar.

Isto é educação. Isso é escola. Isso é a aceitação necessária da existência de caminhos distintos para uma convergência elementar, no direito a uma vida autónoma e determinada individualmente, inserida num partido coletivo, diverso e radical. Por isto, proponho que partindo de uma filosofia praticável, é possível admitir a reflexão como resultado da existência, da permanência e da evolução. É possível admitir estados e condições emocionais como necessidades afetivas. Parece algo novo, mas as respostas estarão sempre na relação sentimental de cada um de nós com a razão.

Esse confronto, ciente, consciente com a nossa consciência, é o caminho para uma cura natural, pacífica, paciente e sem nada menos do que a nossa fronte aberta, disponível e limpa.

Se tudo é confronto, que seja assim, pelo menos para mim.