O meu prognóstico é terminal. Tal como o de todos. Exceto talvez, aqueles que ainda acreditam que podem permanecer vivos para além do fim.

Tolos, honestos ou conscientes, existem alguns para os quais a vida não tem esse fim e isso nota-se na sua morte. A forma altera-se mas o conteúdo permanece. Em alguns casos, cresce!

É quase de frase feita que podemos tentar alterar esse paradigma da morte e da ausência. Podia ser uma mera questão de fisicalidade, que obviamente deixa de existir, mas que passa a tomar uma figura bem maior do que a que “desapareceu”. É claro que nada disto é tamanho, mas não consigo deixar de pensar que a presença da ausência é sem dúvida maior em alguns casos, do que a presença física anterior.

Uma criança não sabe como lidar com a morte e por isso, em casos graves, admite o trauma para perto de si. No entanto, a vivência faz com que a relativa presença do tempo dilua em ensinamentos essa experiência incontornável. Um adulto é afetado de maneira diferente. São tudo minhas opiniões, mas mas também eu já senti a ausência de alguém em criança e também eu já perdi em adulto. Em adultos somos confrontados por nós próprios na presença de nós próprios a equacionar a ausência de nós próprios. Talvez já nem seja perda o que nos invade, mas de facto o trauma é maior, o drama adensa-se e, caímos no erro do medo de viver.

Ausência e perda são temas distantes. Nem preciso explicar, mas ao pensar no seu significado percebemos a simplicidade de um e a boçalidade do outro. Somos donos de nada e esse nada é tudo para nós. Mesmo assim, achamos que temos tudo para ter, quando enfim, deitamos tudo a perder, nesse ganho medo de viver.

Ausentes de viver em nós próprios somos a tal perda prefigurada da vida humana. A real e a imaterial.

Prefiro pensar na continuidade. Não penso em religião, só em fluxo contínuo. Penso numa frase dita, numa imagem desenhada e num momento partilhado. Penso em como tudo isso se traduz em muito mais do que memórias, se falamos de alguém que sentiu e gostou de viver uma parte de nós. Penso que a morte nunca nos vai separar, perder ou ausentar.

Se um dia for pai, irei mostrar viver assim pois mesmo não sendo real, já o sou.