O capital de todos não é necessariamente o meu.

Uma parte sim, a que serve o quadro legal, a outra não. Essa parte legal precisa existir. É uma legalidade e como cidadão que sou, faço o que me compete sem ser preciso exigir. É com orgulho e satisfação que contribuo com o que tenho como regra do comum. Não penso na sua justiça, até porque alguém decidiu por minha representação, o que devia ser melhor para todos. Aceito e agradeço. Participo.

A outra parte não. É uma parte que não pertence a quem eu não quero. É uma parte de uma partilha que só quem souber que tem pode ousar chamar a si. Definitivamente não é comum. Tem uma origem singular, pessoal e estritamente privada. Partilhada criteriosamente com uma mão cheia de confiança a uma mão cheia de confiados. É um capital emocional, intelectual e erudito que em certos momentos tem uma presença pública, por vezes mais literária outros mais científica e até por vezes, uma forte componente profissional. É uma ato elaborado e deliberado de valorização pessoal. Não serve como moeda de troca pois não exige muito de volta. Apenas um pouco de atenção gratuita, sem grandes luzes e num suspiro cúmplice de humanidade. Caso se queira!

Quando assim é o suborno não existe; extingue-se na sua obsolescência de propósito, desenquadrado, pois o capital de todos é uma obvialidade – o meu não tem nenhum valor nominal comparativo. É um paradoxo, absurdamente simples de analisar na lei que o rege: o da oferta e da procura. Se algo não tem procura a sua oferta tende a desaparecer.

O investimento no nosso capital é geralmente baixo, insuficiente e pouco sustentável. Seja por sobrevalorização ou por falta de interesse mas sempre de difícil concretização. Não percebo bem porquê, até porque no meu caso, sempre que concluo as minhas funções dedicadas ao capital comum tenho tempo para o tal meu capital. Ao ponto desta relação se ter invertido no tempo e agora quando suspendo a construção de capital pessoal dedico-me somente a manter a minha relação obrigacional com o capital comum.

Esta visão marcadamente niilista tem um ponto de equilíbrio que presume o enquadramento humanista desta questão: o meu capital próprio não me serve enquanto valor sem ser disponibilizado a um corpo exterior ao meu (um único que seja). Político, social e cultural, esse corpo que recebe é a prova que determina a aplicabilidade do conceito ao real, distante do conceito abstrato e como tal, no domínio do concreto. Sem narcisismo, a construção do meu capital é um valor proporcional á minha procura por mim. Enquadrado no capital comum somente pela necessidade em existir uma ponte para os outros, mesmo esse mecanismo e um domínio pessoal, controlado e sempre intencional na forma como eu transmitido.

Tudo o resto são definições genéricas e abstratas, valorizadas (erradamente) como um capital comum: a felicidade, a amizade e o amor. São conceitos demasiado abstratos e raramente apropriados no capital pessoal de uma forma singular. Por isso nos transformamos numa massa conforme onde o suborno tem cada vez mais interesse, presença e valor capital. Falta espírito crítico!

Teimosamente (stubborn) recuso o suborno pois eu borno não sou.