AEFAUP G.O.! ARCHITECTURE GO08

Recusar participar neste concurso de estudantes, para estudantes, é um ato consciente e elaborado.

transcrição:

Tal como o ato original (o da promoção do concurso), a consciência da minha decisão confronta as práticas da entidade selecionada para o concurso. Cito: “…uma intervenção (…) que melhore, dignifique e inove o espaço da faculdade” é um ato envolto num paradoxo de obediência que não sei bem como qualificar. Entendo e respeito a intenção, mas não posso aceitar o modo (concurso, programa, solução avulsa, data de início a 25.04, prazo, prémio monetário). Entendo que decidiram viver na redução de uma resistência assente em fazer igual ao de sempre, aos de sempre, mas, melhorar, dignificar e inovar o espaço da faculdade é esquecer que o “espaço” não é um resultado em si, mas antes o início para algo que extravasa os limites elementares da disciplina: o campo da prática política, social e cultural da arquitetura.

Participar neste concurso é fazer parte de um ato sistémico e endémico. É a aceitação de um mecanismo etnológico enraizado e propagado por quem aceitar ser programado como uma máquina de soluções. Além da vontade em experimentar “áreas, materiais e até mesmo o modo de intervir” assumo dificuldade em perceber o método pelo qual se continua a comparar propostas para decidir quem são os concorrentes que podem ganhar ou perder um programa. Decidir não participar, é a minha forma de ultrapassar a noção de uma realidade evitável: tentar ganhar e continuar a alimentar este exemplo.

Como prefiro pensar num termo cumulativo e não num termo comparativo, a vitória não me interessa, a perda sim. Penso nessa possibilidade de incitar a convergência de uma construção informada com a formação académica num só lugar numa oportunidade de confrontação de um paradigma real (informar/formar) sobre o peso real do poder académico em perda. E por isso penso nas condições de um concurso (este) como o enunciado que ordena em papel qual o papel de uma pedagogia em forma de programa, e definho. Acho “pertinente e necessário” mudar esta condição binomial na relação entre as práticas de sempre e os praticantes de amanhã como ponto de partida. É imperativo assumir a ausência de uma origem moral (docente ou discente) e transformar um exercício de assiduidade numa participação cabal na realidade da academia; assumir uma clara agenda ética sobre políticas de produção e os seus agentes.

Diria que em qualquer local, incluindo as instalações da faculdade, podemos pensar em como efetivar este modo de pensar, mas questiono-me em quantos assim se faz. Quantos estão preparados para esse efeito? Por isso penso em como nenhum desses espaços assume efetivamente esta tensão de passado, presença e um tal futuro como o átrio triangular, também conhecido como o átrio do multibanco.

Este local é para mim a representação subliminar de um espaço sociogeográfico da faculdade. Um epicentro, onde se representam todos os trilhos, origens, pós e pré cedências, numa materialização construída da confluência de todas as suas comunidades (residentes, visitantes e itinerantes). Nenhum ponto em toda a faculdade é mais importante que este e, nenhum está acima deste ponto tão baixo, tenso e escuro. Configura-se em si mesmo como uma prova geométrica do lugar maior, marcado no teto e evidenciado num desenho de convergência que não passa ignorado. Este é um local claramente conformado por energia: um cruzamento de mundo intangível com um lugar real para ser desenhado, analisado e escrupuleado vezes e vezes sem conta. Resume-se a tudo: pilar, laje, luz, sombra, rampa, escada, arranque, subida, descida, acesso, transição, encontro, mas raramente a uma pausa. Age com um ponto orbital de grande aceleração, apesar de ancorar uma jangada de pedra no centro do seu lugar.

Essa jangada-banco é na prática um pódio ideal para uma reflexão, em pausa. Reflexão feita sob a forma da aceitação de uma tal “riqueza arquitetónica” como um mecanismo para a instalação inquestionável de uns necessários “parâmetros sociais” – enunciados na descrição deste concurso. Um local expectante, apto para a construção de uma interface entre as pessoas e o seu tempo. Um lugar ao serviço das partes; um ponto singular definido como uma possível proposta de concurso para uma intervenção sobre uma faculdade imaterial.

Idealmente uma peça, central, própria da geometria do espaço e da sua instalação. Desenhada a partir da representação universal de um instrumento de medida, uma balança como um sistema, político, justo e equilibrado. Uma peça intencionalmente desenhada da noção de transição deste plano bidimensional como uma matriz de partida para um volume evoluído, elegante, sublime. Um ato escultural contínuo que permite revolver (01) a figura planar, bidimensional e binomial, no (02) sólido espacial, tridimensional e polinomial.

Imaginemos a sua materialidade, o seu eixo truncado por emoções que ascendem ao amago da necessidade, do cuidado, da reparação, da empatia e da partilha; talvez até uma ampla solidariedade de acesso ao território entre: os corpos que detêm o conhecimento e os corpos que assumem o seu interesse. Tronco que suspende um prato, circular, concêntrico e sem qualquer distinção ou vértice ao que pesa na sua escala de valor.

O Pêndulo de Foucault é um instrumento científico que demonstra a rotação da Terra. Inventado por Léon Foucault em 1851, o pêndulo oscila continuamente sem qualquer força externa devido ao efeito coriolis – uma força fictícia. Este dispositivo tem sido usado para medir a rotação da Terra. O comprimento do pêndulo e a sua localização determinam o período da sua oscilação, o que pode ser usado para calcular a velocidade de rotação da Terra. O pêndulo é usado em várias aplicações científicas, mas também como referência para a literatura. No romance “O Pêndulo de Foucault” de Umberto Eco seguimos personagens envolvidas numa conspiração bizarra acerca de uma sociedade secreta. À medida que a narrativa avança, as personagens constroem sua própria teoria da conspiração que consequentemente se liga com o Plano. Através de uma narrativa complexa, o romance explora os perigos da obsessão e do poder de sedução das teorias da conspiração. Habilmente, assenta na falibilidade inerente ao conhecimento e perceção humana.

O conceito científico do Pêndulo de Foucault e o romance “O Pêndulo de Foucault” de Umberto Eco podem ser comparados tematicamente, apesar de formalmente diferentes: o conceito científico do Pêndulo de Foucault é uma demonstração física da rotação da Terra, que se baseia em observação e medição empíricas; o romance “Pêndulo de Foucault” é uma obra de ficção que explora a natureza do conhecimento, da perceção e da realidade através de uma narrativa complexa que relaciona história e filosofia. Enquanto o conceito científico do Pêndulo de Foucault fornece uma demonstração concreta e tangível de um fenómeno físico, o romance usa o pêndulo como uma metáfora sobre o conhecimento oculto e o poder sedutor das teorias da conspiração. O romance sugere ainda que a busca por verdades secretas e conhecimentos ocultos pode levar a pensamentos perigosos e delirantes, confundindo as linhas entre realidade e ficção. Apesar de embora tanto o conceito científico como o romance partilharem o nome “Pêndulo de Foucault” as suas abordagens e propósitos são muito diferentes. O conceito científico é baseado na observação e medição empírica, enquanto o romance é uma obra de ficção que explora as limitações e os perigos do conhecimento e da perceção humana.

A partir do livro de Maria Filomena Molder “Símbolo, Analogia e Afinidade” onde a autora explora o conceito de simbolismo natural na sua relação com analogia e afinidade, pretendo argumentar que os símbolos não são arbitrários. A autora considera que enquanto enraizados no mundo natural e assim transmissores de uma sensação de unidade e interconexão, o seu entendimento avança para além do literal. Molder examina o papel da analogia na construção de símbolos, argumentando que esta é uma ferramenta poderosa que nos permite entender ideias e relacionamentos naturais complexos – tal como Susan Sontag ensaia em “About Style” sobre estilo e cultura. Ambas exploram a ideia de afinidade, referente à relação entre os símbolos e o seu contexto. É sugerido que os símbolos, não sendo estáticos, mas por se encontrarem em constante evolução, adaptam-se a esta mudança através de contextos culturais e de forças sociais – um campo.

Ao desambiguarmos o pêndulo com o “pêndulo”, podemos analogamente criar afinidades simbólicas entre o corpo docente (e as suas intenções) e o corpo discente (e as suas necessidades). Esta instalação propõe uma peça como interface na representação da realidade entre os corpos reais numa forma tangível. Atua como um símbolo que se assume livre da sua representação universal e elementar inserida num plano laminar (uma balança desenhada com elementos geométricos simples como a linha e o triangulo) e transita para uma volumetria de atuação espacial (corporizada por um conjunto de elementos geométricos sólidos e superfícies complexas). Representa tão simplesmente a forma como o equilíbrio se pode representar materialmente, numa crítica sobre os modos e estados de produção arquitetónica. Apresenta-se como uma alternativa ao modo comum de estabelecer concurso por termo comparativo e ativa uma comunidade que se perde por não inovar as suas interfaces mais elementares do ato de comunicar.

O pêndulo tem uma escala, e qualquer que seja o peso ali depositado, marca sempre uma fração de um futuro melhor, próspero, comum.