Perante o impacto da mudança (a certeza de que algo estará disponível para se alterar ou ser alterado), podemos reagir ou com alusão ou com ilusão. Em último caso podemos decidir pela negação mas para já, simplifico.

A mudança implica a alteração de estado e de condição de um facto conhecido. Facto esse, não necessariamente estático, portanto possivelmente orgânico e dinamicamente ativo. Neste caso refiro-me especificamente a uma ideologia, uma forma de pensar, e na sua mudança.

Perante a mudança, iludemos então, sob a forma de fantasia, ambição e até de uma expetativa, o que se entende estar em processo de se alterar. A ilusão do que aí vem, pretendido ou não, precede de um processo que causou a tal alteração e a sua propagação, tanto no tempo corrente como no tempo futuro. É um ato contínuo onde o controlo sobre o procedimento é elaborado a partir de um conjunto de ajustes, com vista à obtenção de um determinado caminho. É geralmente uma ilusão, porque a quantidade de ajustes é de tal ordem, que no final, o ponto previsto de chegada nunca é o planeado. Ironicamente, diria que este resultado é o esperado. Representa um bom plano, onde a ilusão de um resultado se concretiza em fragmentos isolados e constantemente atualizados. Imaginem a democracia, onde nos iludimos infinitamente, sejam essas ilusões individuais ou coletivas.

Perante a mudança, aludemos então, sob a forma de valor, princípio e ética, o que se entende ser um processo de alteração. A alusão a um determinado conjunto de fatores elementares na abordagem a cultura intelectual de um ser ou de uma comunidade estabiliza, higieniza e purga um processo ritmicamente inconstante, com resultados inesperado e geralmente, emocionalmente insuportável. Sem fórmulas, exceto as condições de base formativa, individual ou coletiva, a forma do processo ao longo do tempo fica dependente única e exclusivamente do seu estado, quanto à sua percentagem de acabamento perante o ponto de início do processo. Imaginem algo para lá da democracia, onde paulatinamente nos implicamos como seres individuais que representam a saturação de todos os pontos de um panorama coletivo.

Será possível perceber, que perante a mudança, podemos agir ou reagir, ativar ou passivar, ator ou figurante, mas nada disso me interessa. Esta leitura de uma conformação (e posição) binária deixa de ter validade a partir do momento em que alguém a reconhece como uma alternativa. Por isso, perante o recurso à figura da ilusão ou da alusão no processo de mudança, a expetativa de uma alternativa adicional (diria até que a alternativa se reflete numa leitura cosmológica dimensional de ordem quântica) é uma possibilidade pouco explorada.

Ilusão ou alusão não são recursos errados, desajustados, mas antes escolhas. Considero ainda que são respostas práticas e válidas a problemas sociais modernos (a começar pela nossa posição, estatuto, etc.), mas não são suficientes para a evolução cultural da nossa sociedade. São hinos binários, conducentes a isto ou àquilo. Precisamos de mais.

Imaginemos a democracia, aliás, para além da democracia, onde a participação na mudança é garantida por tudo o que não achamos possível e racionalizado pela atenção ao imediatamente próximo. Imaginem que decidi atravessar uma rua, ou um rio, sabendo que a decisão formada inicialmente pode ser alterada e que a prevalência do resultado não depende do ímpeto ou da capacidade física, mas da leitura do interesse final dessa ação, desse provável resultado. Indeterminante, esta forma de entender o resultado como aleatório não existe, pois o tempo “seguinte” determina-se instantaneamente num novo resultado esperado, e ainda numa nova hipótese de mudança. Um loop, um ciclo, ramificação ou um paradoxo, a leitura do tempo que decorre numa mudança é infinita. É também a melhor opção de estudo para alterarmos o vício da nossa decadência presente.