Carta de motivação

EXTERNO

O engenho do nosso tempo é uma figura de estilo perdida.

Achamos nós, espécie dominante, que arcamos a responsabilidade com a facilidade do controle virtual, sobre tudo o que é matéria conhecida : tangível ou intangível. Sobrepomos a ordem natural, a biodiversidade racional, a ecologia emocional e até espiritual com a relação perfeitamente devassada entre existência e contacto. Garantimos (?) que a narrativa do grupo nunca ultrapassa o campo individual e que a singularidade é um facto presente, mas esse tempo é normal, é imposto, e aceitamos.

“ Somos meros passageiros, sem influência, onde o tempo faz a sua ceifa e onde nós geramos mais um grão de nada, como sempre. “

O engenho é do tempo ( nunca é teu ) e essa certeza compadece muitos, mas há outros que além do presente sabem que esse engenho tem uma parte de acesso. É onde esse conceito dual se apresenta na sua forma tangível ( esse instrumento auxiliar de viagem ) , delimitada por um intervalo proporcional à consciência individual de quem o comanda. Por isto me acusam, de ver no tempo, nesse intervalo que aumentou há bem pouco tempo. É pesada a injúria, custa por dois, pois a quem mostro o engenho não sabe como manipular o instrumento, e magoa-se sempre que tenta; fico curioso quando o mostrar a mais. Vai doer tanto, mas a quem? Por mim não vai ser, que aprendi a dominar a instrução e esse elemento do tempo, mas sei que muitos se vão alarmar. Mulher, homem, próximo, distante, conhecido, ou ainda não, todos se apercebem do engenho do tempo, mas só da forma como não o conseguem dominar.

“ Somos tabula rasa, apesar das traquinices do tempo nos afetarem as vontades inatistas. ”

INTERNO

É assim, na contradição epistemológica do conceito de observação e apreensão do nosso meio que sugiro uma outra vontade, presumivelmente universal, em observar o nosso contexto biográfico. O tempo é o entrave para essa vontade existir num meio solúvel em que humanos se entendem em épocas distintas com a linha descodificada da razão de Ser. É que não ser não é questão e, por isso a proposta de ser um ponto na história humana, deve registar primeiro a materialidade desse território físico que volumetricamente configura a nossa presença. É inata, ironicamente, a minha relação com a minha própria história ( e precisamente intensa na relação pessoal que tenho com o meu passado ) onde empiricamente traduzo os novos capítulos que registo para o futuro. Esta potência de ativar outros ciclos e outros humanos que historicamente se sucedem numa nova imagem, só se esvai em resíduo se não tiver em si a coragem de uma representação. Completa pela bagagem etnográfica da paisagem histórica e cultural de um território e das suas imagens, a representação tem além de todas as provas e camadas do conhecimento universal a leitura no tempo que afetam a noção do espaço onde nos reconhecemos humanos.

COMPULSIVE DESIRES
On Lithium Extraction, Endless Growth
and Self-Optimisation

Com/with Anastasia Kubrak, Godofredo Pereira, Marisol de la Cadena, Michael Marder e/and Susana Caló