O primeiro é o amador, o segundo o filósofo e o terceiro o crítico.

1 induz 2 deduz 3 transforma

O primeiro induz, enquanto absorve, entranha e prospera na base da arte visual e da literatura. Simultaneamente, como se de um ímpeto de sobrevivência para além dos meros estados de mortalidade se tratasse. É passado portanto, não porque passou (na simples contagem do tempo), mas porque tem a história que escreveu como seu aliado. Esta indução reflete a passagem de energia potencial. É no acumulado poder de construir, para além do simples ato de materializar que, simplesmente, algo se constrói, primeiro na obra e depois na observação da obra. Primeiro pela posição como se ama, autor, depois como permite uma posição ao seu público.

O segundo deduz, analisa a sua construção, sentado, exausto. Exaurido pelo seu próprio estado de criação, deixa-se galvanizar pela dúvida constante do perfeito, do conclusivo, ao ponto de abnegar a criação como sua. Mas, e mesmo em convulsão constante, permite-se momentos de êxtase, geralmente ilusões fantasiosas de dimensões paralelas onde o encontro com o seu público é pacífico. Geralmente, é, e reflete toda uma pedagogia de comunicação clara e coerente. Um saber da base. Quando não é, ou se aprende ou se desiste.

O terceiro transforma. Só isso. Reduz e simplifica ainda mais a noção de valor e validade da obra. Enfrenta-se num juízo sem parcimónia, fermentando a matéria primal numa construção passível de ser perceptível aos outros. Poder, no seu estado mais puro, o que consegue existir sem ser uma existência, mas uma condição para a criação.

Nenhum destes estados é um estado de paz e saúde, apesar de todos serem um estado de construção e adoração. É pelo menos assim que nos querem (sempre!) fazer entender o estado normal (natural para alguns) da criação. Algo doloroso, tenebroso e pouco sadio. Um processo de loucura e decadência, o processo do fim. Romântico, que não distingue o contexto do possível com a vontade da repetição impossível. Recursos como justificação de recurso.

A construção para além do óbvio e da tecnologia está ao alcance de alguns. Não porque a atingem mas porque a incorporam na energia pulsante do seu próprio reconhecimento como nados vivos. Falo daquela que ultrapassa o âmago do entendimento genérico e é, só. Beleza. Universal.

Por isso, completar, ou tentar completar, o poder que poucos atingem desta forma é usurpar o direito a que a inquietude de poucos, fazem verdade a vida de todos os outros. Fiquem-se pela constatação de beleza. Mesmo que tenham sido uma parte dessa criação.