É violenta, a procura da decadência. Tentar encontrar uma razão pela qual o caos, ou a ordem se extinguem, levam-nos o sonho. Sentimos como que uma perda, sob a forma da incapaz obtenção de uma regra, provavelmente impossível de obter. A nossa medida não é compatível com este domínio, só com a perda da inocência realista da noção da própria perda sob a forma de um crime capital, viver.

Desilude não só pelo percurso mas também pelo processo. O trauma que fica é incapaz de sarar em tempo útil e por isso carregamos para bem dentro da nossa ausência o que ficou por tratar. Interior e exterior, a cicatriz não dói, só marca e por existir, lembra a luz que se propaga inexoravelmente como o tempo, numa dança que nos dá a realidade sustentada pela existência também da sombra.

É por isto que deixei de sofrer. Porque é certo que se não curo em vida, alguém terá que curar por mim a seguir. De que vale a pena assistir a esta perda, se não for para atingir aquele momento limite que se traduz num sussurro final. Um sussurro direto à história que escrevemos na cabeça dos outros, diferente das folhas de papel da outra história, a que regista a decadência que afinal é nossa, ordenada a partir do caos que nunca foi ordem, mas senão uma tentativa de ordenar a desordem natural da vida.

Vivo normalmente ausente, como se o espaço que ocupo fosse um desenho que faço, sem peso, limpo, mas com marcas e borrões nas costas da folha, e uma das pontas dobrada.