Talvez seja por hábito, ou então porque é simplesmente incontornável, mas sem a menor dúvida, estamos sempre à beira do colapso. Em todos os tempos, geografias e estados, há quem sinta a necessidade de apregoar o cataclismo maior possível, o fim. É como se estes profetas nascessem diariamente em cada um de nós, assim que ouvimos falar de algo menos que ótimo, maravilhoso ou menos fácil.

Para mim, esta gente é primeiro, uma cambada de preguiçosos, que prefere que tudo acabe para todos do que fazer parte de uma construção comum, mesmo sabendo que, efetivamente tudo acaba para todos. Preguiçosos e invejosos, portanto… Talvez não seja isso em que acredito mas é possível ser assim.

Acredito que é mais a improvável noção do tempo. Sempre a contar, sempre a seguir, sem esperar por nada e por ninguém. Sem regras, sem método, sem dimensão humana que não a que nós conseguirmos fazer senso entretanto. Sendo assim, essa entidade abstracta comanda subliminarmente a vida de todos, pressionando a realidade individual a fazer parte de uma contagem imparável. Ninguém tem voto na matéria e tudo alinha pelo tempo de todos. É a verdade mais democrática do universo, seja qual for a galáxia, pelo menos ao nível cosmológico (do quântico não falo).

Não nego que me fascina a incontrolável atração dos humanos para o drama, o enredo, a vitimização como uma profissão exigente. A minha atração não é mórbida como quem pára para ver um acidente ou ouvir uma discussão mas tem dias em que também eu páro. Geralmente faço-o para observar. Tentar a percepção de algo. Não precisa ser erudito ou avançado, pode ser tão simples como uma basura, um contentor, num determinado local, como hoje.

O contentor, mobiliário urbano, público, disponível sem qualquer entrave e significando sobretudo a incapacidade humana de gerir os seus próprios excessos. É um símbolo de uma questão de educação, a da falta de formação.

Posso ensaiar, a partir dos menos óbvio, tanto quanto a filosofia, a sociologia, a geografia, o design, a ética e a política mo permitem, mas hoje vou simplificar. O caixote do lixo mais vulgar do mundo permite-me olhar para o colapso mais recente: a desresponsabilização total do homem consigo próprio na incapaz gestão de resíduos, na forma como lida com o seu consumo e como tal, como violenta publicamente o meio ambiente com a anuência política geral. Tenho dito.

Como o tempo não pára, está na altura de deixar de ser lixo. Lúcidos.