Como os pontos cardeais, dispostos por rotação, distância e ordenança. Como o imperativo da uniformização dos outros; as designações afirmativas dos homens que sempre apontaram a outros homens na esperança de um domínio superior. Essas tolas condicionantes que forraram paredes do medo, do respeito, do cumprimento e do pecado oculto.
Agora não, agora falar de virtudes não me serve como argumento de culpabilização, serve antes de inspiração ao ato humano, esse animal carnal que fere com a contemporaneidade de viver em 2020. Grotesco como o medieval, o espaço do agora é apenas florido pela vista grossa feita pela “educação”, pela “evolução” e pela certeza de qualquer um de nós, sobre o facto de vivermos tempos ultra-sónicos-ultra-lumínicos-ultra-nos.
É desta forma, neste ambiente onde a resiliência e a preguiça matam mais do que a fome do antigo campo folgado pela luz do sol, pela morte na lua que escrevo; é neste dia, o de hoje, com um revivalismo futuro que comento as ditas 04 VIRTUDES, elos de ligação entre o homem pobre de espírito, dedicado à acumulação de mais e mais e o homem que aspira à definição de eterno, de sensato; e nenhuma destas duas é chamada de virtuosa verdade de ti.
Prudência ( prudence ) — a aula magna da razão; instrumento alienado da emoção, preso por isso à disciplina e foco; de sagaz competência comunicativa, prudente pela capacidade de ver para lá do que os outros olham. Designada na fortaleza da mente experiente, envolvida num infinito loop de trabalho mental, a virtude afasta-se das ações das mãos, do corpo, ela deixa-se afogar pela sordidez pura dos ativos que apenas pensam; bestas pensantes. Ela forte, discreta e de sorriso subtil forma-se como mãe, mãe de leite, mãe deleite de uma guerra poderosa, com vencedor, à partida. É o melhor de tudo, para quem? não interessa, quem a tem sabe; sabe-o bem. Espírito livre, ascendência, subtileza, elegância, pose e a Prudência inteligente. Este eixo pivotante onde o limite da contradição acontece é o pico mais alto da montanha e, quando o homem se cruza entre a subordinação e a independência, é na Prudência que encontra o perfeito ponto de equilíbrio. Chegaremos lá? Olha lá a disciplina, és tu a minha forma.
Temperança ( temperance ) — Porque o limite é o travão que procura a forma da coisa livre; olha que não mexo o corpo no percurso do “erro”, “eros?” não esta não é a censura, não é a cobardia de não experimentar; é a forma de refrear, de expelir o sopro invisível antes de acionar a guerra, a vingança, o retorno emocional. Uma limitação do estado de dor pelos outros, ela fecha em si a calma da sabedoria; olha como a água corre calma entre uma jarra e outra, repara na paciência do ato de esperar, consultar, analisar, antecipar e só depois de decidir. Modesta, honesta, pura mas secreta.

Resiliência ( fortitude ) — A mais violenta, a mais carnal, o estado animal mais perto do que nunca; esse sangue escorregadio celebrado pela arrogância possível. É a escolha, é tecer um caminho que nenhum obriga, é o ego no expoente da coragem, da verdade certa e sanguinária daquele que espera a morte e lhe abre a cama para que se possa nela estender. Da moral à física, da forma ao resultado e o medo, esse talvez ignore o estado de todas as outras coisas; o homem enterra-se na sua própria alergia à pausa e a perseverança, essa obstinação fundada pela resiliência tão justa ao corpo. Fitado nos olhos de morte e de fogo, o frio gelado que impera não é suficiente para a demolição de estados de certeza, ambição, resistência, insistência de agora e mais logo e depois e de todas as formas crassas de ser confiante num lodo que guia à glória. E o silêncio calado da boca permanente envolve um corpo físico e um estado puro de verdade, quando os olhos fraquejam ao ver no outro a real resiliência e resistência física e mental. Mãe. Se ouvires o leão olha-o bem, cheira-o ainda melhor e resiste sempre, cheio de coragem, cheio de coragem.

Justiça ( justice ) — O regulador; a regra da competência analítica desde um para os outros e dos outros para um, só. Da justiça não se definem as equidades, antes as ferramentas que proporcionam as generalizações cuidadas que afirmam o sustento da verdade, a balança equilibrada e séria. Dar e receber, como expressão máxima da consideração lógica da justiça. Ela não precisa de ter o mesmo peso nos pratos da balança; vendada para que nada do visível seja condicionante, essa mulher ou essa verdade é a prática de uma conduta colossal onde nenhum fator social, físico ou emocional condicionam a solução. A última virtude, a derradeira forma de moldar mais do que o estado puro e potencial de verdade. A justiça é assim, feita de verdade. Concordas justo?
catarina rodrigues . curadora MONSTRUKTOR, the author