Num recente exercício em que a marca Porto foi convocada, identifiquei a oportunidade em aplicar um raciocínio inovador e construído a partir da leitura crítica da evolução da marca institucional da cidade.
Uma marca de génese clássica, nominativa e com um sinal simplificado pela tipografia, composta pelo carácter universal da leitura do alfabeto latino. A utilização da moldura gráfica e do glifo é seletiva, garantindo pela necessidade da aplicabilidade, a leitura técnica adequada em dimensão e formato. Pujante, composta por aliterações em relações fonéticas, a manifestação material da marca é adequada, e serviu para mim, como o reconhecimento do quanto a marca implícita é muito mais poderosa do que o dístico explícito que a expõe. Foi elaborada por um designer gráfico e isso nota-se, pois existe só, numa ecologia decorrente norma gráfica ao invés de prosperar numa pedagogia de manual de marca onde o capítulo inicial se prolonga para os também manuais de identidade, comunicação e meios. Da leitura da publicação depreende-se essa vontade em materializar a ideia em inúmeros suportes, com bases e bases de estudo gráfico, visual e iminentemente estético.
Este foi o racional que apoiou o exercício : como ir além do implícito. Mais, como trazer para o conhecimento geral todo o conjunto de valores, assumidos e reais, inenarráveis no sinal que ainda persiste; como e sem perder a confiança do interesse, da descoberta e do reconhecimento pela transformação óbvia da nova atividade ( peculiar ) da marca numa campanha simplória; como, sem desprender os valores instalados e continuar a focar o receptor num conjunto sentimental de argumentos que apresenta a mensagem como a própria marca e introduz um novo tipo de categorização : a emocional.
Depois do desconhecimento dar lugar à curiosidade, a desconfiança deu azo à construção de uma empatia imediata com o conteúdo da mensagem, subliminarmente ligada com a marca original ( leia-se original como no contexto da origem ) e libertou um novo conjunto de endorfinas em apoio coletivo. De tal forma que certas fundações da edilidade “abanaram” como se pretende que um “portuense” faça, sobretudo assim que vê a oportunidade em “vingar”, de novo, perante a inovação e a “adversidade”. Este “orgulho” veio imediatamente à tona e a atividade emocional deu lugar à busca de materialidades e ações concretas. Erro. É normal.
Com esta abordagem de marca não revisito a criação de uma outra marca, originária da cidade, de 2015-17 ligada à produção de cerveja e onde exploro os conceitos etnográficos regionais numa manifestação comercial de interesse turístico.
Esta é diferente, e começa na prossecução de um valor/lucro emocional que o mercado se posicionou em proporcionar e ainda ninguém veio aproveitar. A manifestação da marca emocional não pretende concorrer com o sinal gráfico, ou com campanhas isoladas, mas sim ativar um sentimento coletivo de reconhecimento individual.
Emocionante, instigadora, catalista de uma vontade em ser aquilo que pode ser e que ainda não foi até agora, a marca Porto dará agora os passos na direção certa. Sai do óbvio, ultrapassa a mera utilização do sinal e apresenta um significado realmente antropológico, social e aplicado à realidade comum, enquanto evita ser decorrente da vontade individual de um qualquer departamento pessoal.
A catarse de grupo não faz parte deste léxico, desta marca, mas sim a ponderação e a reflexão individual, pelo reconhecimento e empatia do local, pela experiência da sua própria existência e pela sua realidade. São pequenos gestos que constroem esta marca gigante e cada um dos “locais” é um suporte de comunicação potencial. Cada pedra, detalhe, carácter, são polarizações no domínio do implícito e do explícito, como veículos para esta mensagem, que se pode manifestar tanto pelo maior como pelo mais pequeno acto de genuinidade.
Pela primeira vez, efectivamente, transformar a cidade num suporte de comunicação.
Manifestações simples, pistas gráficas, visuais, etnográficas e “locais”, identificáveis, como apropriações possíveis apostadas na transfiguração do território disponível na primeira marca patrimonial de génese emocional.
Certamente o maior projeto de branding alguma vez pensado.
É assim este Porto. Ponto.
Nota : o projeto foi doado à cidade do Porto sob licença de uso e apropriação livre garantindo exclusivamente a propriedade intelectual do autor. Pandemias…