De repente, podemos evitar escolhas. Seja porque alguém, ou até algo nos substitui ou, porque não, ao invés de optar por tomar decisões posso defletir esse processo conflituoso da escolha. Escolha essa, uma reconhecida sentença binária entre umas quaisquer partes, pode ser um subterfúgio para evitar mais decisões, ou é somente o processo da escolha a voltar à cena?

Este ciclo fechado, falacioso pela forma como implica um poder que não é dado, sugere que a liberdade de escolha existe e depende das decisões pessoais de cada entidade em arbítrio. No entanto, deleito-me com a semântica procedural e perfeitamente inorgânica que a sociedade contemporânea impõe subrepticiamente a todos os que a copiam. Esta liberdade presunçosa de muito pouco valor é um dos maiores pregões da nossa história, concorrendo somente com a evolução teológica da espécie e a sua conglomeração racial em estados, nações e ideologias.

Primitivo, embora apelativo, não é a resposta. Progressivo, depende da margem de conflito político (ecológico, ideológico, e até biológico) e que seja possível mitigar. Binário decididamente não.

Um sistema binário é reduzido, insuficiente. A própria definição não se permite evoluir para um contraditório ou antónimo conveniente. Propõe somente o não. Ou é binário ou é não-binário. Isto em si é estranho, num termo de tamanha amplitude filosófica e comportamental.

Quando me confronto com este dilema penso sempre na surpresa que será descobrir o sistema de mais do que duas parte que o conceito e a definição definem como não-binário – e não me refiro a um sistema simplificado ou de uma só parte. Penso assim em singularidades. Um sistema de múltiplas decisões, feitas a partir de escolhas simples, onde um estado de posicionamento relativista apoia (sem repudiar) a característica lógica actual binária, ao propor uma parceria de escolhas e estratégias de distribuição comum. Complexo, até complicado, mas extremamente simples. Mesmo assim, à primeira vista o sistema ativa o pressuposto de que as decisões evitam escolhas e que por sua vez permitem essas escolhas e levam a novas decisões e novas escolhas…

Assim é possível descrever este ponto como o ponto que nos trouxe até aqui. Simples e robusto este sistema é um ciclo perpétuo dedicado a uma espécie de seres simplificados, onde tudo é truncado a partir de um precedente histórico e temporal, e assim dogmático porque é necessariamente antropológico.

Agora sim, aplico eu um sistema binário, ao negar o que descrevo. Imagino a negação de tudo o que conhecemos, imagino como será ser influenciado pelo tempo que há-de vir, pelas decisões que não tomei e pelas escolhas que adiei. Imagino esse caos alternativo na minha cabeça só para justificar o que defendo neste raciocínio : há outras formas de abordar o positivo; não é caindo vezes e vezes sem conta no sistema de onde pretendo prosperar; não é evitando o sistema e no entanto, no que proponho, é tudo.

Um fluxo contínuo, omni sensorial e orgânico, de base procedural, mitocondrial e cosmologicamente quântico.

Basta abster a própria existência como sobrevivência para preparar imediatamente tudo o resto. Prevalecer nessa existência é somente a forma de explicar a morte como o fim de algo, ao invés de justificar a vida pela energia que flui mesmo após esse evento e nos termos que conseguimos explicar, inconsequentes, ao mundo atual.