allwayscat:

Quando um dia este corpo não existir, é provável que esta eternidade desapareça como um fogo explosivo e evaporado. Um dia eu vou morrer e um dia tu vais morrer. Um dia tudo isto que existe vai desaparecer, para sempre, num fugaz momento de implosão. A eternidade que alguns procuram jamais poderá ser chamada de eterna. O homem escreve, descreve e assenta todo o seu raciocínio na esperança de um dia se rever em alguém : um filho, uma forma, uma fórmula, um legado material e imaterial que nos garanta para sempre a decisão da paz e da calma.

Agora olhem lá.

Então sabes o que significa tudo o que escrevo? Nada.

Absolutamente nada e esse nada vai para sempre amarfanhar uma dor, essa eterna. Todas as coisas não existem, todas as coisas vão desaparecer, todas as formas, as cores e as palavras vão esvanecer quando esta Terra não mais cá estiver e então aí todos os génios e todas as vozes, todas as invenções e todas as descobertas, todas as tradições e todas as culturas, todos os animais e todos os mares, todas as intenções e todas as árvores, todos os que amamos e todos os que odiamos, todos os desportos e todas as texturas, todos os cheiros e todos os olhos, todas as letras e tudo, absolutamente tudo o que conhecemos vai morrer. Não há retorno, não há dimensão, não há expectativa, não há nada que não seja mais do que o nada. Talvez o ferro, o zinco e todos os metais existentes noutros locais. Apenas.

Essa redução incrivelmente aterradora, fascinante, lubrificante de todas as pupilas que se atrevem a ler faz me sorrir, pensar a insignificância de cada dia que passa, e que raio de coisa é essa, um dia? somos meras bactérias, riso para aquilo que pode efetivamente estar sobre tudo, essa energia que também ela se pode tornar numa avassaladora história do esquecimento porque um dia nenhum homem, nenhuma mulher, nenhuma forma, nenhuma coisa vai saber o que é a energia e um dia, se eu morrer cá estarei para contar a história do esquecimento.