Hoje são 39

Desafio : escreve como se escrevesses para uma criança, depois um adolescente, depois um adulto, depois para ti, depois para um velho.

– Tenho saudades de mim, de ser só um espectro de força e vontades. De ter o ímpeto do vento pelas costas, e sair. Sem compromissos e sem entraves. Já nem me lembro porque deixei de o fazer, mas sei que o fiz. Sabia sempre que deixava algum alvoroço, mas voltava, forte, renovado, a sorver a casa. Era tão bom sair como era chegar, e com o passar dos anos isso mudou. Já não saía, tinha as âncoras do outros amarradas aos meus pés. Estavam em fio do Norte, mas era uma guita forte…

– Cortei com uma faca.

– Aprendo muito! …muitíssimo, mucho, molto, trés, much… Vamos sempre a sítios bons e divertidos. Sem animais, que esses são para ver ou na TV, nos desenhos ou na natureza. Eu gosto do zoo mas não devemos ir, por causa deles. Porquê? Onde é que está?

– Eu?! Ainda não consigo falar… ele disse-me sempre para me rir, mas não é humano isso… Também me dizia sempre “ainda”, por isso deixa-me estar. Queria muito poder sentir outra vez aquela inquietude como minha. Aquele calor azul.

– Como é que eu vou fazer agora? Eu sei que quando não sei o que fazer, não posso fazer nada antes de parar e pensar, mas as respostas que ele me dava sem dar… São tudo. Eram tudo… Não. Não quero saber de mais nada, nem de fotos nem de fotografias, só me apetece escrever e falar com ele…

– Bem… Rir não, mas não estou triste. Nunca lhe fiz as vontades todas mas nunca deixei de fazer algumas. Esta custa-me a mim, que percebo a ironia, mas… pensando bem… só é bom partir, porque é melhor voltar… Uh, por isso, não estou triste. Uhh… Ele sempre voltou, onde e quando quis, mesmo mais tarde, mas foi quando se sentiu preparado. Uhhhh…. E nunca o viste fazer diferente.

– Eu sei, mas não consigo. Eu não… Ainda…