A primeira premissa de um compromisso é a professa vontade em prometer.
Como em todos os compromissos existem duas partes indissociáveis como integrantes do pacto a relacionar: o emissor e o recetor. Antes de mais, convém esclarecer que o emissor é efetivamente possível enquadrar como uma entidade, e por isso, pode ser relativo a um agente individual ou coletivo, pode ainda ser pessoal ou institucional. O recetor é mais ou menos abstrato, relativo à sua própria posição perante o emissor. Pode até ser uma corrente de pensamento.
Podemos descrever assim o emissor a partir do seu enquadramento e de acordo com algumas variáveis.
Podemos começar pela menos óbvia, onde o emissor é ao mesmo tempo recetor. A mensagem premissa é transportada do indivíduo para ele próprio, o mesmo indivíduo, relacionado portanto e somente o seu corpo intelectual íntimo. Podemos ainda refletir sobre o facto deste compromisso ser mantido ora privado ora público, o que por si, afeta a leitura, interior e exterior do compromisso, em múltiplas frentes de análise.
Quando o emissor se dirige ao recetor, num canal direto e identificável, encontramos o que parece ser, na maioria dos casos, a principal forma de estabelecer compromisso. Este segundo tipo é mais fácil de reconhecer, até pela prática individual da maioria de uma qualquer comunidade, principalmente religiosa. A comunidade social, assente nas premissas políticas de relação de premissas com estrato, estatuto e poder, é o exemplo maior deste caso: eu comunico, tu reconheces, há possibilidade de acordo e como tal, um perfeito compromisso tácito. Se estas regras não são seguidas há conflito e a suspensão do compromisso social, seja ele cultural ou somente ético.
Éxiste ainda um terceiro tipo (e deixemos a contagem por aqui, para já) onde a inversão da direção da premissa comunicação, se transforma quase numa falácia, e se inverte: o recetor exige um compromisso do emissor (transformando-se assim num emissor?). A inversão sugere ainda que as regras binárias de partida e chegada estão ausentes e em sua vez podemos não só encontrar o compromisso do emissor pela posição e consequentemente mensagem subliminar do receptor como também, a omnidirecionalidade de uma nova forma de mensagem, comunicação e compromisso. Imaginemos um político, que pretende levar a cabo uma decisão, sabendo de antemão sem emitir a sua mensagem, que a receção da mesma tem uma provável reação. Esta influência clara da mensagem, sem sequer ser proferida uma relação clássica de canal, emissor, receptor, tempo, permite mediar compromissos com uma mestria intemporal agindo diretamente como professa vontade em prometer.
Vamos aos exemplos: eu quero comprometer algo em mim (sem nunca influenciar a minha relação com outros); eu quero prometer algo a alguém (porque o haveria de fazer se não a mim próprio primeiro); eu exijo uma promessa implícita (sem que seja explicitamente professa a minha vontade e compromisso).
Este é o tipo de promessa a cumprir? Parece que sim, pois as bases da sociedade contemporânea têm como agregador a capacidade de prometer entre os seus elementos.
Esta é a promessa que não consigo fazer: saber como prometer algo a quem quer que seja, com a certeza de não a cumprir. Não porque não a tenha como certeza mas porque a simplicidade desse compromisso evita a nossa relação com o tempo da nossa mudança e a nossa evolução intelectual.
A promessa é sempre melhor vivida como princípio,uma membrana entre órgãos sem moralismos, e só dependente da nossa forma de aceitar como viver.